Good night?


Bem... Todos nós sabemos que ciência tem dias bons e ruins. Mais dias ruins que bons. No fim das contas, sabe-se que é preciso amar muito isso tudo pra se manter firme nesse mundo de frustrações. Sim, a palavra é essa. Você se esforça, pensa, formula, trabalha até tarde, fim de semana, e quando vê, nada é nada e os bons resultados parecem tão distantes quanto quatro corridas ida e volta direto a Plutão.
Eu amo esse jogo. Eu amo quebrar a cabeça pra desafiar as probabilidades e tentar ganhar. Amo desafiar as previsões. Minha vida está centrada na satisfação de vencer as probabilidades. Seriamente não me imagino longe desse mundo, longe da investigação, do questionamento cotidiano. Das dúvidas que me tiram da cama todos os dias. Da necessidade de entender, de explicar. Muito além do paper depois de tudo, Claro, não sou hipócrita. Quero papers como todo mundo quer. Mas quero entender a mágica de tudo, primeiro. Quero fazer algo útil. Utópico? Ufanista? Talvez. Loucura? Não acredito. Paixão.
Mas tem dias que a gente cansa. Cansa de esperar pelo dia que alguma coisa boa aparece pra explicar tudo e justificar todo o esforço. Alguns dias me culpo por sentir tão intensamente meu trabalho. Mas depois me justifico por tanta auto-exigência. Sou o que sou, a nerd que gastou anos da vida pra entender o Lehninger, o Stryer, o Janeway e o Abbas. Alguém que fala com as bactérias mandando elas dobrarem direito minhas proteínas. Alguém que conhece cada uma das proteínas pelo aspecto no gel de SDS-PAGE. Minhas proteínas são minhas filhas adolescentes rebeldes que nunca fazem o que eu peço, que estão ansiando pela maioridade como se não vissem a hora de se livrar de mim. Como boa mãe, fico sentida mas não deixo de cuidar delas.
Visivelmente, hoje não foi um dia bom. Uma das coisas ruins foi não ter ninguém pra me dizer o de sempre: deixe de sua frescura, as coisas vão dar certo pra você. Senti falta de alguém pra mandar eu parar de me preocupar hoje. Parar de surtar.
Resultados ruins também são resultados. Eu sei. Mas não foi o caso hoje. Hoje foi um inexplicável e sobrenatural resultado nenhum. A magia negra que algumas vezes cobre a cabeça dos cientistas.
Enfim, vamos torcer e esperar por dias melhores. Agora, eu queria alguém que tirasse a palavra proteína da minha cabeça. Boa noite? I don't think so.

Pontes, rios e rapaduras


Dessa vez escrevo sem pretensão de te contar coisas bonitas. Vou apenas despejar ideias soltas como me vem a cabeça. Afinal, eu nunca paro de falar e sem ninguém aqui pra me ouvir agora me meto a escrever. A vida no fim das contas tem que ser explicada de uma forma nordestina. Pra mim, a vida é bem igual a uma rapadura. Dura, trabalhosa de fazer, tem que esquentar, enformar, esperar esfriar pra partir e pra comer, tarefa nada fácil. Mas no final de tudo, vem o gosto apurado do açúcar, hiperconcentrado, saturado, como se estiveste a chupar a própria cana. No mínimo, recompensatório.
Bem, realmente não sei de onde tirei essa analogia hoje. Talvez do meu dia de ELISAs tão frustrantes, pela milésima vez. Acho que prefiro acreditar que tudo acaba como uma doce rapadura no final. A culpa da minha excêntrica metáfora possivelmente foi daquela ponte tão parecida com a ponte Duarte Coelho. Eu ia atravessando já com sono, cansada, e de repente me imaginei chegando no Recife Antigo e cruzando os velhos prédios até o marco-zero, pra sentar no porto e comer acarajé, ou macaxeira frita. Mas não tinha porto do outro lado da minha ponte hoje. Nem Antigo, nem os prédios e ruas estreitas. Buildings. Muitos, por todo lado, e ruas largas, bem asfaltadas, com faixas e semáforos por todo lado. Mas não havia meu Antigo. Nem o sotaque pernambuques, nem os ambulantes que sempre critiquei. Toda vez que me pego olhando os rios de Pittsburgh penso em Recife. As pontes de Pittsburgh fazem o mesmo. Saudade de ouvir o povo falando alto e abraçando forte. As vezes os apertos de mão cansam.
Aqui tudo é tão maravilhoso que, como já disse a alguns, dificilmente se eu pudesse imaginar colocar todas as coisas que gosto num só lugar, teria pensado em algo tão grandioso como Pitts. Mas, de alguma forma meu coração sempre vai ouvir Alceu Valença saudando os altos coqueiros de Boa Viagem.

Atualizações

Bem,senhoras e senhores. Quase um mês aqui. O tempo passa rápido, fato. Até me assusta um pouco. Mudei um pouco nesses dias? Ou nada? Não sei dizer ainda. Vou descobrir quando eu voltar. Se ainda caibo no mesmo lugar, ou se expandi, ou diminui. Tudo é possível, as possibilidades serão sempre inimagináveis, para o bem e para o mal.
Saudade? Claro que sim. De pessoas, de lugares, de situações. Mas tudo suportável. Eu sempre aprendi a suportar muita coisa. Inclusive a solidão muitas vezes contante e tediante. Muitas vezes o trabalho monótono e infrutífero. A falta de alguém com quem conversar sem falar de seus problemas. Não querer contar de novo a bixiga dos meus problemas. A falta de alguém que entenda você completamente. A falta das palavras corretas, do significado correto, do correto jeito de expressar o que se sente. A falta de casa. Não a casa material, com paredes, mas a casa emocional, onde você se sente seguro, onde você é você, e todos sabem disso e você não tem que explicar nada. O silêncio se faz necessário perante o que foi dito por anos. Nada mais importa.
Odeio a comida daqui, e é de fato a única coisa que não me adaptei nem pretendo. Sinto falta do meu almoço. Nada a ver com arroz e feijão. Tem mais a ver com menos hamburguer, bacon and cheese. Alguma coisa a ver com o quiosque, ou com  padaria da Várzea.
Amigos? Difícil dizer. Acho que alguns, não muitos. Talvez um pouco mais de tempo pra responder essa. Fica pra depois. Colegas sim, e gente disposta a ajudar também. Tem aos montes aqui. O contrário também se faz verdadeiro.
Oficialmente é outono e tirei minha primeira foto de uma árvore secando hoje. A paisagem mudando vai ser uma contante agora, parecendo minha vida, em período de renovação. Ainda está muito quente pra grandes passeios, e logo estará muito frio para eles também. Não posso dizer que aqui é um lugar de um clima muito agradável. Não, essa não é a palavra. A palavra talvez seja bonito. Acho que é isso. Sinto a falta do sol pra clarear esse céu cinzento de todo dia. mas estou gostando dos ventos frios, por enquanto.
Pra terminar, hoje joguei boliche. Foi divertido, e tal. Mas sinceramente, não trocaria por uma noite na casa de Bu jogando twister. Ou um fim de tarde na parada de ônibus com Amanda e cia aprendendo blackjack.
Enfim, certas coisas que o dinheiro não compra. Para todas as outras temos as pistas de boliche.
See you, sweets!